quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIA DOS PAIS - para os pais que são Pais na Prática - Por Pedro Henrique

Pedro me disse hoje: "Vai ser dia dos pais, mãe, sabia? Eu vi na televisão. É para isso que eles são criados, para ter filhos, sabia? Você sabia, mãe, que ser pai é para o filho não ficar só com a mãe? Todo filho tem que ter um pai, senão, só vai ter a mãe, já pensou? Os pais aprendem com os filhos, mãe..." E depois não consegui mais memorizar o que falava. Muito lindo!

Imagino que ele tenha visto a propaganda de uma marca de cosméticos - que, por sinal, achei o conceito perfeito! Onde o pai troca experiências com o filhos, e tem tudo a ver com o nome do produto, fazendo referência aos dois lados de uma mesma relação: pai e filho e como um aprende com o outro. Nossa, apesar do apelo comercial, não deixa de ser uma mensagem profunda... ou, melhor, apesar de uma mensagem profunda, foi bem utilizada no apelo comercial... enfim, ficou muito boa! - onde "aparecem" os pensamentos do filho e do pai - que vêm a ser o mesmo, mas, cada um do seu ângulo, dentro do seu contexto... mas, aprendendo um com o outro: "Ele me ensinou tudo. Me ensinou a ter coragem. A insistir! Me ensinou que não precisa se falar nada para dizer muito. Ele me ensinou que tudo que é bom, pode ficar 'bonzão'."


E, esse pequeno texto é para os Pais na Prática, que se vêm e assumem a importância dessa troca. Afinal, como sempre levanto a bandeira, para se educar um filho, antes de tudo, nos educarmos como pessoas. Para ajudar a eduzir da pequeno indíviuo em formação, muita coerência e humildade para reconhecer que não há uma guia prático, nem manual de como ser pai ou mãe sem falha. Somos humanos e trazemos essa condição em nosso padrão comportamental para aprendizado - risos. E como saber  a melhor maneira de educar um filho se nem sabem quem é esse filho/indivíduo/pessoa? Aprendizado é via de mão dupla! O que aprendemos, podemos ensinar.

Saudações maternais,

Pat Lins.

domingo, 24 de julho de 2011

DR PEU E SUA MALETA DE MÉDICO

Peu tem melhorado e muito seu comportamento. Como venho aprendendo, não mudamos o temperamento da criança, mas, podemos contribuir na formação do bom caráter. Com isso, os temperamento acaba sendo "adestrado" pelo tempo e pelo grau de consciência e compromisso com as responsabilidades de cada ação. Ou seja, se eu faço algo, esse algo acarreta em um tipo de consequência. Daí, pergunto: "você acha certo esse comportamento? É correto isso que você fez?..." E assim, além de ocupar o tempo dele com atividades ainda mais produtivas como os jogos educativos - quebra-cabeça; cruza palavras; revistinhas de pintura -; mantenho nossas leituras; tomei a cautela de sair para lugares menos movimentados e/ou agitados e com pessoas que gostam e sabem lidar com criança - isso é muito impotante... deixei de ir a determinados lugares onde as pessoas vivem de maneira superficial e repletas de ansiedade... o ambiente fica agitado, as conversas são agitadas e sem foco... isso atrapalha muito lidar com Peu nesses lugares, porque ele é elétrico e nesses lugares ansiosos, as pessoas não param de falar e fico em saber como lidar com ele e essas pessoas que são incapazes de perceber como estão agindo... em meio a essa aceleração, fica uma falação, só, uma barulhada e ele fazendo de um tudo para chamar a atenção. Num desses episódios, para terem idéia, ele pediu água para uma determinada pessoa e ela respondeu: "aqui não tem refrigerante, não!". Por Deus, se a pessoa não sabe nem como está agindo, alguém acha que que terá a capacidade de saber lidar com uma criança questionadora e esperta ao extremo como Pedro?. Não é que não frequentemos diversos lugares, vamos a shoppings, cinema, piscina, parques... e na casa dessas pessoas ansiosas e agitadas, também - que nem percebem que ele puxou esse mesmo agito... mas, tudo bem... cai para mim, que sou mãe, lidar com meu filho como ele é...

Bom, um dos brinquedos favoritos dele é a maleta de médico. Ele "cuidou" de mim, no início do ano, antes d´eu perder o bebê e estava enjoando muito. Pegava a maletinha e ia cuidar da mamãe e do irmãozinho. Uma graça. Hoje, o pai se machucou e ele saiu correndo em direção ao quarto. Prontamente, volrou e abriu sua bendita maletinha de médico e se jogou por cima do pai, dizendo: "fique tranquilo, pai, vou cuidar de você!". Muito lindo! Ah, não, não acho que ele vá ser médico ou qualquer outra profissão, deixo-o brincar sem cobrar: "você vai querer ser isso quando crescer, filho?". Ele gosta de montar prédios, de pintar com tinta, tocar, cantar e dançar, de encenar, de dublar... Ele gosta e faz tanta coisa que é difícil dizer o que ele vai ser. Mas, a reação dele de cuidar demonstra a sensibilidade que ele tem e o zelo que tem conosco - eu e o pai. Está cada dia mais carinhoso. Bom, continua teimoso e desobediente - não como quem não quer acatar o que falam os adultos, mas, por achar que ele é capaz de fazer e esse é um grande desafio, fazê-lo compreender que ele é criança e, por mais esperta que seja, é criança, sem podá-lo, a ponto de frearmos sua proatividade. Infelizmente, estava canalizando as investidas de limite da professora com agressividade... Hoje, está melhor, afinal, o tempo vai passando e o fato de mantermos a postura dia após dia, mesmo que ele resmungue, mantemos a coerência. Creio que isso, associado ao fato de procurarmos uma psicóloga fantástica e a escola e todos falando a mesma língua - inclusive, algumas atividades que faço com ele em casa, seguem a linha da escola - está fazendo com que ele veja - ainda que a longo prazo - e sinta que estamos acima dele e aceita, aos poucos, que ele não está no topo da hierarquia. Mas, um fato foi/é primordial e, esse sim, foi uma ajuda importante, porque era por onde ele encontrava a brecha para se sentir poderoso: o pai. O pai está mais firme com ele, sabendo que precisa ser firme e sem se sentir culpado em ser firme, já que passa a maior parte do tempo longe dele... Agora, fechada a brecha que ele escapava, o cerco foi fechado - risos - e estamos conseguindo fazer um trabalho disciplinar mais eficiente e o peso não está mais só em minhas costas, de ter que enquadrar e implorar as pessoas mais próxima que não cedam às chantegens dele... Sim, precisei me afastar de algumas pessoas. Como são de importante referência para ele, visitamos essas pessoas com menos frequencia, porque a idéia não é afastar ninguém de ninguém, mas dar espaço mais saudável para a formação de caráter desse mesmo menino que pega a maleta de médico para cuidar dos pais, mas, que, em meio a essas pessoas, só quer correr e gritar. Vi que ele ficava acelerado pela aceleração local e precisei manter uma distância ultra saudável. Bom, não pude, nem posso, explicar a essas pessoas as razões de minha conduta, mas, acreditem, para bem educarmos nossos filhos, até os 7 anos precisamos - penso eu - dar uma base muito sólida e, em meio a turbulência não é um ambiente apropriado... Não sei se estou certa ou errada, mas, eu também não sei lidar nesses ambientes com tanta informação desencontrada e tanta hipocrisia... assim, não poderia passar uma postura coerente a meu filho. Mais um belo motivo para me afastar. Não, não me acho melhor do que ninguém, mas procuro ser muito coerente em meu caminho e se me deparo com esses ambientes, me canso mais rápido.

Enfim, para propriciar a boa formação de caráter de um filho, precisamos buscar a nossa, também. Para que o menino Dr Peu possa expandir e firmar suas virtudes, é preciso que ele as conheça de perto, sem confusão, com cuidado. Por isso, me cerco cada vez mais de pessoas que sigam a mesma linha e, com esse apoio real e fundamental, fazemos que dele emane aquilo que há de melhor. Infelizmente, nos lugares de agito e ansiedade , só se via a correria dele e nada mais... Se uma pessoa é incapaz de se chegar a uma criança, o que faremos lá? Questão de respeito para ambas as partes. Aos poucos, com a energia acelerada dele acentando, teremos mais liberdade de entrar e sair desses lugares sem efeitos desgastantes ou abalos consideráveis. 

Educar um filho, formar, de maneira positiva, seu caráter, é ter além do zelo e do cuidado a consciência - ou a busca para acessá-la - de que formamos um indivíduo e que não podemos fazê-lo se não nos conhecemos. Precisamos resgatar nosso bom caráter - ou, em alguns casos, desvelá-los - para passarmos com verdade para o pequeno indivíduo em formação, não passarmos nossas frustrações ou taparmos nossos buracos e carências através da manipulação. Educar um filho requer muito mais de nós: requer a nós mesmos.

Ver o resultado positivo de maneira clara no comportamento dele é um estímulo para continuar no caminho e vivendo mais feliz, ao obter pequenas vitórias.

Saudações maternais,

Pat Lins.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

DICA MÃES NA PRÁTICA - TEATRO: ANACLETO - O PORQUINHO POLITICAMENTE CORRETO

Para a criançada rir, se divertir e aprender!

"MÃE, COMO FOI VOCÊ, HOJE, EM CASA?"

Normalmente, eu perguntava a Peu, ao pegá-lo na escola: "e aí, filho, como foi na escola hoje?" E ele respondia o que fez. Parei um tempo de perguntar, seguindo o conselho da coordenadora pedagógica, que me disse que isso poderia causar uma certa ansiedade nele e ele se sentiria sempre na "obrigação" de fazer algo para ter o que falar. Não que seja errado, mas, deixar que ele manifestasse a vontade de falar. Bom, eu costumo perguntar, agora: "oi, filho! como foi sua manhã?", ou, quando o peo na casa da avó: "como foi o seu dia, meu bem?". 

Hoje, quando fui buscá-lo, viemos conversando no caminho, como sempre fazemos e, ao chegar na porta de casa, ele me perguntou: "e você, mãe, como foi você hoje em casa?". Foi tão lindo! Parece bobagem! Pode até ser, mas, a cada dia ver o quanto ele é sensível e atento por trás do agito todo é uma sensação que só eu sei... Vê-lo crescer e mudar - isso não quer dizer, em momento algum, menos trabalho... estamos nos referindo a um pequeno ser humano e sua educação é a longo prazo... por mais trabalhoso que seja, me trabalho muito para que ele aprenda com exemplo real... não perfeição, mas, busca constante. Sempre digo para ele, quando se comporta "mal": "eu sei que você pode fazer melhor, proque está dentro de você!" É como lido comigo mesma... sempre em busca - me toca tão profundamente que nem sei explicar.

Meu filho que você se torne, cada dia mais, um ser virtuoso! Que a serenidade seja seu estado de espírito constante - apesar de hoje ele ser agoniado e acelerado, aos poucos está diminuindo consideravelmente e se mostrando cada vez mais uma pessoinha linda e com bons sentimentos. PS - nunca falei perfeito... portanto, que fique claro que sim, Pedro, você apronta muito, mas, faz parte do caminho de aprendizagem, né não? Essa é a fase de fazer besteira e ser orientado.

Filho, aprendo muito com você mesmo, para te ensinar, viu?

Saudações maternais, 

Pat Lins.

terça-feira, 12 de julho de 2011

MEU FILHO, VOCÊ NÃO MERECE NADA - Por Eliane Brum



A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
 
Eliane Brum - REVISTA ÉPOCA
 
   Divulgação
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista.
Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e 
internacionais de reportagem. 
É autora de  
Coluna Prestes – O Avesso da Lenda
  (Artes e Ofícios),
A Vida Que Ninguém Vê
  (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e 
O Olho da Rua (Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras, na Revista Época)

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